Habitats

No território do Parque Natural encontramos uma grande variedade de habitats: margens e leitos dos cursos de água, matagal mediterrânico, afloramentos rochosos, montados, matos, estepes cerealíferas, pousios e alqueives – que conferem a toda a área uma biodiversidade que merece ser preservada.


Habitat Rupícola

Rupícola ou rupestre, aplica-se a habitats que se caracterizam essencialmente pela escassez de solo e predominância de zonas de afloramentos rochosos. Estes habitats são particularmente importantes para aves de rapina do topo da cadeia alimentar e outras espécies da avifauna particularmente ameaçadas, que encontram nas escarpas um refúgio perfeito para os seus locais de nidificação. Exemplos são o caso da cegonha-preta, do bufo-real, da águia de Bonelli ou da Águia-real.



Montado

Desde muito cedo que, por ação humana, o bosque mediterrânico primitivo foi dando lugar ao montado. Na região em que se insere o Parque Natural os montados são predominantemente de azinho, uma vez que o sobreiro é menos resistente a elevadas amplitudes térmicas e à secura, características climatéricas desta zona. Neste tipo de habitat os solos são cultivados com cereais de sequeiro, que, normalmente, são alvo de rotação com pastagens.

Estes povoamentos de sobro e azinho, explorados de forma extensiva, são bastante ricos em fauna, apresentando grande diversidade de espécies de aves. São procurados como local de nidificação, de abrigo ou de alimentação.




Matos Mediterrânicos

As zonas de matagal mediterrânico são representativas da paisagem que existiria neste território antes da intervenção humana, em particular, antes dos arroteamentos de terras associadas às campanhas do trigo.

Este tipo de habitat ocorre apenas nos vales encaixados dos cursos de água e ainda na face norte da serra de Alcaria Ruiva. O matagal é caracterizado por apresentar um estrato arbustivo denso e bastante diversificado, em conjunto com a esteva, o sargoaço, o tojo-molar, o trovisco e o gaimão encontram-se arbustos e árvores como o zambujeiro, o lentisco-bastardo, a murta, a aroeira e a azinheira.

Estas espécies de plantas formam, no seu conjunto, uma vegetação densa extremamente importante na conservação dos solos, impedindo o arrastamento das terras pelas águas de escorrência e favorecendo a infiltração das águas no solo, enriquecendo-o.



Pseudo-Estepe ou Estepe Cerealífera

O arroteamento do bosque mediterrâneo original, que, progressivamente, foi dando lugar aos campos de cultivo, alcançou o seu auge com a campanha do trigo nos anos 30 do séc. XX. Este processo deu origem à principal unidade paisagística do Parque Natural: a estepe cerealífera (planícies).

A pseudo-estepe, ou estepe cerealífera, é um agro-sistema de rotação composto por um mosaico de campos de cereais, recém-lavrados (alqueive) ou em pousio, estes últimos utilizados como pastagens. É uma paisagem aberta, dominada por plantas herbáceas, onde as árvores e arbustos surgem na paisagem como pequenos apontamentos esporádicos.

Esta paisagem semi-natural depende do homem para a sua manutenção, mas apresenta um elevado valor ecológico. A sua conservação é de extrema importância para muitas espécies de aves estepárias, algumas ameaçadas à escala global, das quais se destacam a abetarda, a sisão e o cortiçol-de-barriga-preta.




Matos

No Parque Natural ocorrem vastas áreas de matos resultantes em grande parte do abandono de terras de pastagem ou de culturas extensivas de cereal. Estas áreas são compostas por plantas arbustivas muito adaptadas ao elevado índice de secura que é característico da região, tais como, a esteva, o sargaço, a roselha, o sargoaço, o rosmaninho ou o tojo-molar entre outras.

Os matos de esteva são utilizados por mamíferos como o javali, a raposa, o saca-rabos, o texugo, o coelho-bravo e mais recentemente o lince-ibérico.

Para além de refúgio para esta diversidade de espécies esta vegetação autóctone adaptada. às condições climáticas da região, é responsável pela conservação dos solos onde está instalada. Aquela estrutura vegetal, além de minimizar a erosão, promove ainda a infiltração da água no solo, o aumento da quantidade de matéria orgânica e a de nutrientes.



Habitats de Água Doce

Charcos e Sistema Ribeirinho

As zonas ribeirinhas (margens do rio e ribeiras) do Parque natural são por norma entroncadas entre relevo acentuado. As ribeiras apresentam grandes variações do seu caudal e durante os meses de verão a água resume-se a pegos, dispersos. Os pegos são o último reduto de água-doce de muitas espécies da fauna piscícola local e uma importante área de alimento para espécies de aves aquáticas.

Uma parte importante do percurso das linhas de água é feito em vales encaixados com vertentes declivosas, cobertas por matagal mediterrânico, como no rio Guadiana e/ou por plantas arbustivas, caso da maior parte das ribeiras. De entre estas plantas destaque para o loendro, tamujo, tamargueira e silvas, estando também presentes espécies como a aroeira, o sanguinho-das-sebes, o medronheiro, o bunho ou os juncos.

Nas zonas onde o leito de água corre mais largo, a vegetação altera-se, encontrando-se essencialmente salgueiros, freixos e choupo-negro. Estas árvores têm uma função muito importante na consolidação das margens e na diminuição da erosão provocada pelas águas torrenciais sobre o solo muito frágil e rochoso.

Na paisagem local, seja por aproveitamento de depressões naturais do terreno, seja por ação do Homem na construção de pequenas barragens surgem planos de água importantes para a manutenção da biodiversidade local.

De entre as raridades da flora ribeirinha destaca-se uma orquídea, a Spiranthes aestivalis e o Trevo-de-quatro-folhas-peludo (Marsilea batardae).

CM Mértola
POSEUR
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